terça-feira, 18 de novembro de 2008

EDUCAR PARA MUDAR

Pretendo expor algumas considerações sobre as aplicações do conhecimento, bem como os métodos a serem utilizados na prática docente. É importante salientar que não pretendo aqui esgotar este assunto, mas somente fazer algumas colocações que acredito serem essenciais para o nosso compromisso profissional com a educação. É claro que se trata de um breve relato e as colocações serão feitas de maneira resumida, mas que fomentam uma boa reflexão sobre alguns aspectos que devemos compartilhar em nossa prática educativa.

Vivemos numa sociedade extremamente mecanicista, e o currículo escolar não foge a regra e está impregnado da racionalidade cartesiana. Toda esta realidade vivida na educação acabou por fragmentar o conhecimento, dividindo as disciplinas em diferentes áreas tornando-as campos distintos. Um exemplo é o caso da disciplina de História que se viu separada da Filosofia e da Arte, numa busca por uma “cientificidade objetiva”, algo absurdo numa área que trata de relações e processos humanos. Não que os conteúdos tradicionais, como a Matemática ou a Física, não sejam importantes, só que sem o desenvolvimento do espírito, esses conhecimentos tornam-se vazios. O método mecanicista[1] de enxergar o mundo encaixa-se perfeitamente ao pensamento neoliberal vigente na sociedade contemporânea, e para ele vem servindo como suporte formando simplesmente peças de reposição para suprir as necessidades de mercado utilizando-se de uma educação bancária, onde o professor ensina e o aluno aprende.

Escutamos diariamente em noticiários informações detalhadas sobre os aspectos econômicos da nação. Entretanto como anda situação social? Ninguém se importa, o termômetro de uma sociedade é a sua situação econômica, se ela vai bem o país não tem com o que se preocupar. Mas será que este tipo de metodologia responde aos anseios da nossa sociedade atual? Será que devemos cruzar os braços e dizer: “não adianta fazer nada é assim mesmo!”

Estamos passando por uma crise generalizada, que começa pela educação e ultrapassa os limites de minha capacidade de percepção e o principal fomentador desta crise é o Estado, que deixou de ser um representante dos interesses gerais da nação, para tornar-se uma instituição de poder.
É preciso mudar esta situação e a educação tem de encabeçar esta luta, devemos entrar nas salas de aulas conscientes de uma ética que possa proporcionar ao educador e educando um compromisso com a mudança. E um compromisso profissional assumido é primordial para um trabalho construtivo. Para isso podemos seguir alguns métodos interessantes:

PROVOCAR:
· Colocar o pensamento do educando em movimento;
· Propiciar que o aluno pense sobre a questão;
· Propor atividades de conhecimento;
· Provocar situações em que os interesses possam emergir e o aluno possa atuar;


DISPOR OBJETOS/ELEMENTOS/SITUAÇÕES

· Dar condições para que o educando tenha acesso a elementos novos, para possibilitar a elaboração de respostas aos problemas suscitados, superar a contradição entre representação e realidade;
· Dar indicações, oferecer subsídios, dispor de elementos para “combustível” (“arte” do professor: elementos certos, nos momentos certos);

Cabe ao educador fomentar um pensamento crítico e também ser capaz de unir conceitos divergentes e que normalmente são catalogados de maneira fechada, com uma visão limitada, além de ter a capacidade de pensar o contraditório, de analisar, sintetizar, construir e reconstruir. Os conteúdos previstos nos programas curriculares devem ter alguma significação na realidade social do educando e a mediação deve incentivar a construção de um saber relacional, contextual, gerado na interação Professor/Aluno possibilitado que os educandos tenham espaço para dar significado às informações e aos conteúdos trabalhados, e estes precisam estar a serviço do aumento da capacidade de aprendizagem. Além do mais o educador deve ser um investigador perseverante no dia-dia de sua docência, todos os grandes pensadores foram por natureza grandes perguntadores, por isso as crianças aprendem mais rápido (são grandes perguntadores), assim não devemos nos enxergar como seres acabados e sim em uma contínua transformação e aprendizagem.

POR UMA EDUCAÇÃO QUE TRANSFORME

· Existência de um fluxo universal, onde a fragmentação cede espaço para visões totalizantes;
· A dicotomia presente que entendia o homem como um ser dividido em corpo, mente e espírito, sofre uma alteração e aponta para um homem holístico[2] que busca sintonia com o seu entorno, com o cosmos;
· A necessidade de compreensão dos fatos e fenômenos a partir de sua totalidade e de sua complexidade;
· Mundo em holomovimento: como um rio aparentemente sereno na superfície, mas que não cessa um só minuto o seu movimento interno, contínuo, indefinível e imensurável;
· Mudança do conhecimento como blocos fixos e imutáveis para o conhecimento em rede, onde as parcerias se destacam como dispositivos sociais interessantes para a partilha, a socialização de idéias e iniciativas;

Temos que transformar a educação num sistema aberto em movimento incessante, acolhendo novas iniciativas, novos projetos, novas maneiras de se fazer algo que nunca se fez. O homem é provocado nesse contexto de mudanças a construir novas competências, a se utilizar de novas referências ou construir novas aprendizagens para manusear as mesmas ferramentas, de outro jeito, com outras intenções.
Portanto não devemos nos adaptar ao contexto existente temos de nos inserirmos nele, deixando de ser um “objeto” e tornando-se um sujeito da história.

...Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam... (FREIRE, 1996)

Um aspecto que é primordial para uma boa prática educativa é a de que precisamos formar pessoas no seu sentido mais amplo da palavra, e para isso devemos aplicar a teoria a partir da prática cotidiana de cada educando, e ainda que seja importante saber que as teorias não são estáticas, mas sim que estão em uma mudança contínua, como também o está o sujeito.

[1] O mecanicismo é uma caracteristica da Administração Científica onde as organizações eram vistas como um arranjo rígido, construídas a partir de um projeto e montadas como peças mecânicas. A máxima eficiência era procurada através da avaliação pormenorizada do seu funcionamento. O lado humano, as emoções e os relacionamentos foram ignorados. As pessoas eram consideradas preguiçosas e ineficientes e precisavam ser controladas e estimuladas financeiramente para que cumprissem suas obrigações.

[2] Holismo (grego holos, todo) é a idéia de que as propriedades de um sistema, quer se trate de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma de seus componentes

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