sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Guerra dos Farrapos

A Revolução Farroupilha, foi uma guerra civil que se iniciou no ano de 1835, prolongando-se durante dez anos (a mais longa guerra civil da História brasileira). Ela foi, e ainda é, motivo de muito orgulho para os rio-grandenses, pois ela veio desempenhar um papel decisivo para a composição da auto-imagem sulina (PESAVENTO, 2003). Alguns símbolos de nosso estado como, a bandeira, o escudo e o hino rio-grandense, foram todos criados durante a revolução. Além da imagem do gaúcho como Centauro dos Pampas, montado em seu cavalo e sua veste campeira, também serem fruto da Guerra dos Farrapos. Um visitante que percorre o estado do Rio Grande do Sul em nossos dias observa por toda parte a forte presença de uma herança histórica do conflito. Temos a Rádio Farroupilha, o Parque Farroupilha, o Conjunto Farroupilha e o Clube Farroupilha. Sem contar as inúmeras ruas e cidades que levam nomes dos principais atores desta revolução. Devido a esses fatos podemos trabalhar a idéia de que a Revolução Farroupilha foi um marco na consolidação da identidade rio-grandense.

Antecedentes

O confronto entre farrapos e imperiais provocou a separação e independência de parte do Rio Grande do Sul, em 1836, na proclamação da República Rio-grandense. Entretanto é importante ressaltar que a Revolução Farroupilha não provocou nenhuma mudança na estrutura das relações econômicas e sociais existentes desde o período colonial, e que no território rio-grandense coexistiam dois governos. O Provincial Imperial e, o da República Rio-grandense. A frente da revolta armada estava à elite rio-grandense formada pelos proprietários de terras e de gado, os chamados estancieiros, alguns militares, charqueadores, comerciantes e alguns membros do clero que romperam com a Igreja do Rio de Janeiro (PADOIN, 2006). E as reivindicações básicas dos farroupilhas eram: a escolha do presidente da província (até então sempre nomeado pelo Governo Imperial, sediado no Rio de Janeiro), que os impostos arrecadados dentro da própria província nela permanecessem e maior autonomia para os municípios.
Por parte dos charqueadores (não todos) do sul do estado o descontentamento estava ligado primeiro, a perda da região do Uruguai com o final da Guerra Cisplatina, pois o gado uruguaio era muito importante para a produção do charque. O segundo aspecto era o alto preço do sal importado da região de Cadiz, na Espanha (principal insumo para a produção do charque), que encarecia o produto gaúcho. Enquanto que o governo do Uruguai isentava as taxas de importação do sal devido ao fato de o charque ser o principal produto de exportação do país. E no Brasil, o charque produzido no Rio Grande do Sul, era destinado ao mercado interno fazendo com que o Governo Central procurasse meios de manter o produto a um preço baixo para beneficiar os compradores do norte e nordeste, esses sim ligados à uma economia agro-exportadora, geralmente produtores de açúcar, que utilizavam o charque como alimento para sua mão de obra escrava (FAUSTO, 2006). Com isso, o charque Uruguaio chegava a várias regiões do Brasil, como o nordeste, a preços mais baixos do que o gaúcho, e por isso os produtores brasileiros começaram a reclamar dos impostos e da falta de apoio do Governo Imperial à principal atividade econômica da Província. Esse descontentamento foi se agravando às vésperas da Revolução Farroupilha e acabou se transformando numa das motivações de revolta dos rio-grandenses.
Outro fator influenciador deste embate pode ser explicado pelo caráter fronteiriço de nosso estado, que sofre forte influencia das Províncias do Prata (Argentina e Uruguai), que viviam naquele momento o processo de emancipação política sob a forma republicana, das antigas Províncias do Vice-Reino do Prata. E esses ideais republicanos teriam penetrado no ambiente rio-grandense, fazendo com que a Revolução Farroupilha fosse mais uma variável desse processo de luta contra o projeto centralizador do sudeste brasileiro (PADOIN, 2006). Como os “Hermanos”, os farroupilhas queriam a formação de uma república, ou seja, queriam a independência política frente ao império brasileiro, porque o significado da palavra república estava bem claro na cabeça da elite revolucionária, vem da frase em latim res publica, que pode ser governo livre, governo popular e coisa pública ou coisa do povo. E no espaço farroupilha vinculado à existência de uma coletividade política, contrário a monarquia. O sistema republicano, como forma de governo, foi presença constante nos discursos dos liberais farroupilhas, juntamente com os termos da pátria liberdade e independência (PADOIN, 2006).
É importante também lembrar que nem todo o rio-grandense foi farroupilha, como nem todo farroupilha foi republicano e separatista. Havia dois grupos políticos entre as elites farroupilhas, o “Grupo da Maioria” liderado por Bento Gonçalves e Mariano de Matos, que defendia a organização de um estado independente e republicano. Fundamentados no liberalismo e no direito das gentes, aprendidas e divulgadas através de jornais, sociedades literárias e secretas (Maçonaria).
A outra parte era chamada de “Grupo da Minoria”, representado por David Canabarro e Vicente da Fontoura, que estiveram no comando da revolução, a partir de 1843. Eram reformistas, pois também defendiam um projeto federalista, porém moderado, e não republicano, e sem expressar a idéia de separação com o resto do Brasil, apenas reivindicava uma descentralização administrativa.

Começa a guerra

E mesmo a par de todas as exigências dos farroupilhas o Governo Imperial nomeou em 1934, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, político ligado aos interesses do governo central, e em setembro de 1835, o objetivo imediato do movimento farroupilha era depor o presidente da província. E no dia vinte do mesmo mês, começava a Revolução Farroupilha, com as tropas revolucionárias entrando em Porto Alegre, enquanto que, Braga, fugia deixando a capital nas mãos dos farroupilhas. No dia 11 de setembro de 1836, após a Batalha de Seival, fora proclamada a República Rio-grandense, com a sua capital situada em Piratini, pois, nesse meio tempo Porto Alegre tinha sido retomado pelas forças imperiais. Muitos historiadores defendem a tese de que a idéia de separação foi tomada pelo entusiasmo da vitória em Seival, no entanto novos estudos revelam que o projeto separatista já fazia parte dos meios revolucionários farroupilhas como prova o Manifesto de Bento Gonçalves e José Domingos de Almeida de 28 de agosto de 1838: “Desligado o povo rio-grandense da comunhão brasileira, reassume todos os direitos da primitiva liberdade; usa destes direitos imprescritíveis constituindo-se república independente”. Essa afirmação era complementada com a seguinte: “O ato de separação e desmembramento não foi obra da precipitação irrefletida”. (PADOIN, 2006)

A expanção

Dessa forma, o estado que se pré-configurou como a República Rio-grandense adquiria um sentido de “missão salvadora”, de modelo a ser seguido e adotado através da união por laços federalistas. Isso mais o importante fato de que os farroupilhas necessitavam de um porto para escoar as suas mercadorias, pois o porto de Rio Grande estava nas mãos dos imperiais, fez com que em 1839, as tropas farroupilhas liderados por David Canabarro e Giuseppe Garibaldi fundassem em Laguna, Santa Catarina, a República Juliana, confederada à República Rio-grandense. Mas pouco tempo depois ela foi retomada pelos imperiais.

“A paz do ponche verde”

A Guerra dos Farrapos só foi chegar ao fim quando em 1845 o Barão de Caxias propôs, em nome do governo central, uma “paz honrosa” aos revolucionários. Uma perda honrosa poderia até servir de consolo no sentido da valorização da honra até o amargo fim. Porém o fim do conflito não poderia ser mais melancólico ( WEIMER, 2006). Ele acabou quando Caxias, representante do imperador, convocou os comandantes rebeldes para assinar um tratado de pacificação à chamada “Paz do Ponche Verde”, que foi conseguida a base de indenizações pagas aos farroupilhas. Além de os principais líderes da revolução ser anistiada, a Assembléia Provincial foi fortalecida, os impostos foram diminuídos, os oficiais farroupilhas foram incorporados ao exército do império e as propriedades confiscadas ou ocupadas durante a guerra foram devolvidas. Devido aos fatos aqui relatados a conclusão é de que a elite farroupilha foi comprada pelo governo central.
Por tudo isso a Guerra dos farrapos pode ser considerada um fato único na História do país, e de qualquer modo, tratou-se de um movimento contestador, porém ligados aos interesses de uma elite estancieira, não possuindo então um caráter popular.


Bibliografia
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 2ªed. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Nação e região: diálogos do “mesmo” e do “outro”. In: História Cultural: experiências de pesquisa. Sandra Jatahy Pesavento (org.). Porto Alegre: editora da UFRGS, 2003.
PADOIN, Maria Medianeira. A Revolução Farroupilha. In: Império, coordenação geral Nelson Boeira, Tau Golin. Passo Fundo: Méritos, 2006.
WEIMER, Günter. O período Farroupilha. In: Império, coordenação geral Nelson Boeira, Tau Golin. Passo Fundo: Méritos, 2006.