domingo, 21 de dezembro de 2008

Prostituição na Idade Média

Neste trabalho falarei sobre a condição das prostitutas no Ocidente Medieval usando como fonte a leitura do capítulo VI do texto Sexo, Desvio e Danação. E também da Bíblia da Mulher nas Epistolas aos Coríntios I e II. Mostrarei de maneira simplificada com eram vistas pelo meio onde viviam durante a idade média, mais especificamente no Ocidente.

Meretriz, rameira, mulher-dama, cortesã, prostituta... São muitos os nomes que designam um dos mais antigos ofícios do mundo. Era uma atividade vista como repulsiva, mas necessária à sociedade e por isso tolerada para evitar algo pior. Acreditavam que usando esses serviços, os jovens ficavam desestimulados a praticar o estupro e afastados da homossexualidade. As prostitutas obrigadas a usar roupas especiais, eram segregadas em locais conhecidos como "zonas de luz vermelha". Na cidade de Avignon, elas eram proibidas por lei de tocar em frutas e pão no mercado para não contaminá-los e ainda trabalham fora dos muros que cercam os centros urbanos da época. E no século XV, também na França, o rei Carlos VII reconheceu a necessidade dos serviços oferecidos pelos bordéis para jovens solteiros e autorizou a presença dos maiores de dezesseis anos. Pelos regulamentos estavam excluídos os sacerdotes, judeus, homens casados e leprosos. A clientela desse comércio era formada pelos rapazes que não podem, em razão da idade, ter encargos de família e também pelos tímidos, os defeituosos, e pelos homens relativamente normais, que não encontrando satisfação sexual junto de suas esposas procuravam obtê-la através das sucessivas e fugazes uniões com prostitutas.

As limitações de ordem religiosa, moral e fisiológica, opostas à livre satisfação do desejo sexual do homem levaram a manter essa instituição pública do meretrício. À prostituição neste Ocidente pretensamente culto chamam ainda de mal necessário. Grande parte dos ensinamentos evangélicos em relação ao sexo se encontra em Paulo, principalmente nas Epístolas aos Coríntios I e II. É preciso não se afastar do contexto para compreender os fatos: Corinto era um porto muito movimentado, onde florescia a prostituição e outros comportamentos contrários à nova moral. Capital Política da Grécia era o Empório das negociações com o Mediterrâneo e também a antiga Corinto era o lugar onde se localizava o Templo da Deuza do Amor Afrodite por isso a igreja não via com bons olhos os desvios de seus habitantes. Corinto atraia negociantes, filósofos e artistas de todo o mundo conhecido um pólo propício para a prostituição.

Virgindade, castidade e celibato são considerados pelo apóstolo melhores que o casamento, mas quem não puder se contiver que se case, pois é “melhor casar-se do que abrasar-se” (I Cor 7, 9) e somente dentro do matrimônio é que se poderia exercer a sexualidade. “Uma vez casados, marido e mulher não deveriam recusar (sexo) um ao outro”: Não vos recuseis um ao outro, exceto, talvez por algum período de mútuo consentimento, para ocupar-vos da oração; mas então, tornai a juntar-vos em um, para que Satanás não vos tente, por causa de vossa incontinência. (I cor, 5). Naquela época a mulher era considerada muito inferior ao homem e estava muito marginalizada socialmente. A indissolubilidade do casamento estabelecia maior proteção e amparo à mulher, pois o marido podia divorciar-se dela por qualquer coisa, deixando-a desamparada numa sociedade em que a única alternativa nesse caso seria a prostituição. Se uma separação fosse inevitável, o casal deveria manter-se daí em diante em celibato; um novo casamento só era permitido em caso de morte de um dos cônjuges. Não aparece no Novo testamento referências ou proibições à masturbação, mas a moralidade do cristianismo passa a considerar o corpo e as sensações corporais como fontes de pecado. A rejeição ao prazer físico de forma geral, com ênfase na aversão ao prazer sexual, aparece em função de interpretações baseadas nas filosofias em moda na época, afastando-se da Bíblia, que apresenta uma visão bem mais positiva da sexualidade.

Santo Agostinho (335-430) foi o pensador católico mais influente na formação e divulgação desta nova moral sexual e seus ensinamentos transcendem a sua época para inspirar toda a teologia moral posterior. Seu pensamento é marcado por Platão e Plotino, bem como pelo maniqueísmo, sua religião antes da conversão ao cristianismo. Em sua luta contra a sexualidade, que impregnava toda a sua existência, formulou uma moral que implica numa profunda repressão à sexualidade e ao prazer e propôs que, mesmo dentro do casamento, a relação sexual se dê sem prazer atendendo como único objetivo à procriação.


Embora o sexo fora do matrimônio fosse proibido pelas leis eclesiásticas, existiam as prostitutas, como também existiam os "bordéis" e, aliás, o termo bordel vem daquelas épocas. Os homens livres, cavaleiros, soldados, artesãos, servos da gleba ali se divertiam com as prostitutas e levavam para casa e, consequentemente para suas esposas, toda sorte de doenças venéreas tais quais as que conhecemos hoje. Um fato interessante é o das prostitutas da idade média é, de que possivelmente (conforme alguns autores) terem dado origem à enfermagem, pois nas guerras entre senhores feudais, eram as prostitutas que cuidavam dos feridos em batalha. Na realidade, as prostitutas sempre foram às guardiãs da moral hipócrita da sociedade. Apesar de desvalorizadas, eram consideradas úteis e necessárias. Do ponto de vista das famílias, elas contribuíam para preservar a castidade das moças que deveriam chegar virgens ao casamento e, ao mesmo tempo, preservavam a ‘virilidade’ do rapaz para que não chegasse virgem ao casamento. Sua contribuição para o casal era óbvia: permitia a esposa se manter ‘respeitável’, enquanto o marido buscava a satisfação de suas necessidades sexuais, impossíveis de serem satisfeitas no casamento, fora de casa. Como centro das atenções, mulheres. Mulheres que fazem de seus corpos instrumento de trabalho, demonstrando tratar o sexo com naturalidade. Ao oferecer prazer e realizar fantasias, a figura dessas mulheres mexe com o nosso imaginário erótico. Sempre disponíveis ao prazer, elas exercem uma espécie de fascínio que torna o mundo da prostituição envolto em mistérios.

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